Mas sendo o Taekwondo uma arte marcial que, visualmente, é semelhante a outras, o que a distingue então das outras, e sobretudo, o que explica esta enorme popularidade? Para encontrar a resposta a esta questão, temos que começar por compreender o que é, afinal, o Taekwondo.
Os mestres desta arte marcial começaram sempre por dizer que o Taekwondo é, sobretudo, uma forma de vida. Muito mais do que a sua componente prática, o Taekwondo incorpora uma filosofia e uma maneira de ser e estar perante o quotidiano e as dificuldades com que nos deparamos diariamente. Um dos conceitos chave é o Hongik-Ingan, que significa “bem-estar de toda a humanidade”. É nessa ideia que se baseia a filosofia desta arte marcial: transformada em objectivo, os praticantes procuram atingi-lo através da união espiritual da tríade “corpo-mente-vida”.
No sentido mais prático, o Taekwondo é um instrumento de defesa e resposta perante “ataques”, não apenas físicos, mas também simbólicos – as dificuldades e adversidades que o quotidiano nos coloca. O termo é composto pelas palavras “Tae”, “Kwon” e “Do”, cada uma delas com vários significados, semelhantes entre si, mas que permitirão uma interpretação mais lata do conceito. “Tae” pode significar “pernas”, “pés” ou mesmo “pisar” (ou “manter-se em”); “kwon” pode ser interpretado como “punho” ou “lutar”; e “do” entende-se como “caminho” ou “disciplina”.
A interpretação mais comum traduz o conceito como “disciplina de pés e punhos”, mas percebemos assim que Taekwondo poderá ter um significado bastante mais profundo, em vez de remeter directamente para o sentido do confronto físico.
A filosofia do Taekwondo é, em grande parte, baseada nas tradições ancestrais do povo coreano, o Han, que ao longo dos séculos foram servindo de base a toda a cultura nacional e assumem ainda hoje um papel vital na identidade nacional.
Em parte, isto reflecte-se no Poomsae, que consiste em diversos movimentos coreografados e pré-definidos, através do qual é exercitado não só o físico, mas sobretudo a mente e o espírito. Assemelha-se, visualmente, a um combate contra um adversário imaginário (ou vários), mas a sua razão de ser prende-se mais com motivações espirituais do que de treino de combate efectivo – ainda que seja essa a sua aplicação prática.
No total são perto de duas dezenas de movimentos que exprimem, pela harmonia dos golpes ensaiados, elementos culturais, históricos, espirituais e religiosos dos Han.
É o caso por exemplo do Keumgang, cujo termo significa “diamante” e é o nome da mais bela montanha coreana e do símbolo do guerreiro supremo (nomeado por Buda): este Poomsae representa a dureza aliada à beleza, através de movimentos e golpes poderosos. Koryo é uma Poomsae baseada na dinastia coreana com o mesmo nome, que derrotou os invasores da Mongólia, e cujo legado é transposto para esta coreografia que representa, desta forma, a força e o espírito dos antepassados vitoriosos.
As Poomsae encontram-se hierarquizadas, com crescentes graus de dificuldade, acompanhando o grau de perícia do praticante: os oito primeiros Poomsae iniciais são os Taegeuk, fortemente inspirados em elementos naturais e religiosos, e o mais avançado é Ilyo, que incorpora a expressão máxima das artes marciais, o nível supremo de concentração e abstracção do mundo exterior.
Os Poomsaes são a expressão física e prática da filosofia do Taekwondo, e têm uma importância tal que são organizados com regularidade várias competições que avaliam a sua correcta elaboração. Tendo isto em conta é fácil perceber que o Taekwondo é muito mais do que a luta, sendo essa apenas a ponta de um iceberg imenso e profundo, que espelha na forma da arte marcial a cultura milenar coreana. Talvez por isso seja o desporto nacional desse povo.